A alfabetização em duas línguas é um desafio para crianças e famílias que, no mundo globalizado, vivem em ambientes cada vez mais multiculturais. Curiosamente, apesar de ser um processo mais trabalhoso, principalmente para crianças acima de 4 anos, segue sendo um dos recursos mais vantajosos para a criança em formação.
Aprender um novo idioma concomitantemente ao idioma materno não confunde a criança, como muitas pessoas defendem. A criança, em sua fase pré-silábica e silábica, aprende a linguagem em formato de código, isto é: a criança começa a representar aquilo que é falado e deduz a letra a sua maneira (atribuindo valor de sílaba a cada uma), o que faz com que o ensino simultâneo das línguas seja interpretado apenas como uma transposição de sons. Desta forma, o cérebro da criança, que funciona como uma “esponja” para o conhecimento, não associa os dois alfabetos e as duas linguagens como duas alfabetizações, mas sim como uma só.
Quanto mais línguas a criança aprender dentro desse período, maior a transferência do aprendizado. A criança entre 3 e 8 anos apresenta maior facilidade, proatividade e rapidez na hora do ensino da língua estrangeira. Pesquisas apontam que a partir dos 11 anos a pessoa começa a ter uma dificuldade maior em aprender novas línguas. O adulto ou adolescente monolíngue, por já possuir uma matriz fonológica sedimentada, se caracteriza por uma sensibilidade auditiva amortecida, treinada a perceber e produzir apenas os fonemas de sua língua materna, o que não acontece na criança ainda em formação.
Outro agente que interfere é que a criança possui os dois hemisférios do cérebro mais interligados do que o cérebro do adulto, pois este já passou pelo processo de lateralização cerebral durante a puberdade. Logo, a criança assimila a língua através do hemisfério direito e a sedimenta em seu hemisfério esquerdo como habilidade permanente e, por isso, mesmo se não houver muita prática durante a sua vida, a pessoa que foi alfabetizada de forma bilíngue nunca vai esquecer o idioma.
Caso a criança apresente dificuldades, como confusão de sons e grafias próximas, deve-se ter cuidado. Não existem malefícios dentro do ensino bilíngue, mas o importante é sempre respeitar o tempo de cada criança dentro de seu processo de desenvolvimento. Aprender nunca é demais e somente contribui para o crescimento pessoal e profissional de cada um!